A alta dos preços das commodities e fertilizantes trazem preocupação para aumento de desvio de carga
Como o contexto inflacionário que surge após a primeira onda da pandemia da COVID-
19 e a Guerra que se instaura na Ucrânia e Rússia podem afetar os preços das
commodities e gerar impactos no aumento do desvio de carga no Brasil?
Esse artigo busca debater os novos modus operandis de desvio de carga devido ao aumento dos valores das mercadorias das commodities e fertilizantes e como esse cenário reflete imediatamente no aumento dos desvios de carga e as novas práticas das quadrilhas.
A inflação impulsionada pela crise econômica que o mundo inteiro teve impacto após a
primeira onda da pandemia de COVID-19, onde os comércios precisaram ser fechados,
hospitais lotados, milhões de mortes e a necessidade imediata de readequação de todo
o sistema social e econômico, onde o Brasil hoje também sofre com os impasses
políticos, temos uma taxa Selic acima de dois dígitos que a muitos anos não se via, isto
somados a guerra Russo-Ucraniana, que inevitavelmente atingirá todos os países
devido as sanções internacionais, comercialização dos fertilizantes e commodities mais
caros, surge uma nova esfera no que tange o desvio de carga.
Importante deixarmos claro que as quadrilhas de carga só agem na oportunidade,
lembrando a frase de Machado de Assis, “a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”. Basta que haja uma porta de abertura e o estrago está feito. O ramo do transporte do
agronegócio não fica fora desse quadro por ser por algumas vezes algo sem punição
imediata, ou seja, se não houver mobilidade e união das transportadoras para mitigar o
problema social, as práticas dos desvios de carga, falsos assaltos e aliciamento dos que
fazem parte do quadro logístico da cadeia de transporte só tendem a piorar. As
quadrilhas mudam, pensam novas formas de burlar o sistema de proteção implantados
e com isso há a necessidade hoje do profissional que além de estar plenamente
envolvido na gestão de risco, consiga desenvolver mecanismos utilizando a gestão do
conhecimento, buscando estar sempre um passo a frente das quadrilhas de desvio de
carga.
Normalmente o que vinha ocorrendo era o desvio de carga nos trajetos mais longos de
viagens, pois não havia um acompanhamento pontual da viagem de subcontratação
para commodities, então as empresas de transporte utilizam de ferramentas internas e
externas para analisar o perfil do subcontratado e a viagem acontecia. Ocorre que
passado um determinado tempo o cliente identificava que a carga não havia chegado e
entrava em contato com o transportador que identificava então ou ter ocorrido,
furto/roubo ou então a apropriação indébita da carga.
Na atual conjuntura inflacionária e os elevados valores dos fertilizantes e o receio da
escassez do produto, as quadrilhas estão atacando as rotas conhecidas como rasga
lona ou puxinha ou vira, como são conhecidos no ramo logístico. Este modelo de
operação remete a vários carregamentos e descargas num trecho curto de rota, onde o
conjunto transportador pode até carregar três ou mais cargas durante um único dia, ora
pensando no produto fertilizante, onde se tenha o receptador próximo ao carregamento,
um facilitador no sistema da transportadora que não implanta trava de segurança de
validação dos dados do veículo e uma oportunidade gigante de levantar mais de três
cargas por conjunto transportador. Como que as transportadoras deixam suas portas
abertas para isso? A resposta é simples, falta investimento em gestão de risco e gestão
do conhecimento. Há de se entender que em pleno século XXI, com todas as
tecnologias possíveis de serem implantadas no mercado, validação de documentos por
QR CODE, travas nos sistemas integrados, capacitação do campo e dos colaboradores,
contratações assertivas, ainda assim é um campo que necessita de investimento das
empresas do ramo. Empresas que inteligentemente investiram em softwares,
treinamento, capacitação e contratação de colaboradores ou consultores de risco,
conseguem hoje ter excelência nas práticas da gestão de crise de suas empresas.
Muitas vezes não adianta ter seguro de carga se a seguradora nega a indenização por
falha expressa do transportador, não adianta receber a indenização se o cliente precisa
da carga e não do valor dela. Estamos falando de logística e como se faz logística sem
controle?
Diante do exposto, no mundo corporativo, globalizado e informatizado onde estamos
adentrando novas tecnologias não podemos deixar de ressaltar que as empresas com
gestão de crise consolidadas vão sair na frente e quem ficar sentirá grande dificuldade
de acompanhar o mercado em grande movimentação.
Leia também:
https://www.canalrural.com.br/noticias/economia/guerra-gera-preocupacao-sobreoferta-
de-fertilizantes-e-precos-das-commodities-diz-fgv/
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/03/07/guerra-na-ucraniasera-
catastrofica-para-alimentacao-global-diz-gigante-dos-fertilizantes.ghtml
https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2022/03/4994727-previsao-dainflacao-
de-2022-sobe-pela-10-semana-seguida-e-vai-a-659.html
A Autora:
Sheila Batista de Souza
Consultora em Gestão de Riscos
Graduada em Administração de Empresas
Especialização em Gestão de Negócios e Gestão Tributária
Mestrado em andamento em Gestão do
Conhecimento.
Expertise em gestão de riscos no agronegócio desde
2013
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